Erosão Dentária em Crianças e Adolescentes

O que é erosão dentária?

Erosão dentária é definida pela perda irreversível de estrutura dental como resultado de um processo químico de desmineralização lento, gradual e progressivo não causado por bactérias, diferente da doença cárie (onde os ácidos são produzidos por bactérias). O agente etiológico é o ácido de natureza diversa, não bacteriana, o que torna esta patologia complexa.

A preocupação maior nos últimos tempos relacionada à saúde bucal das crianças, embora tenha ocorrido um declínio na prevalência da doença cárie, observa-se um aumento significativo no número de crianças e adolescentes que tem apresentado erosão dentária. Isso reflete num maior impacto na dentição decídua (dentes de leite), pois a espessura de esmalte e dentina desses dentes é mais delgada que dos dentes permanentes, ou seja, o processo ocorre mais rapidamente.

Quais as causas de erosão dentária?

A relação entre dieta e erosão dentária tem recebido destaque em estudos recentes, pela forma inadequada como as crianças tem se alimentando. Existe um consumo excessivo de bebidas como sucos naturais / artificiais, refrigerantes (principalmente quando oferecidos em mamadeiras) e alimentos ácidos, aliados à sua introdução cada vez mais precoce.

Além da alimentação, o consumo de ácidos pode estar associado à administração de medicamentos de uso contínuo, refluxo gastroesofágico, anorexia, bulimia, vômitos frequentes e xerostomia (boca seca). A doença do refluxo gastroesofágico é definida como a passagem involuntária do conteúdo gástrico para o esôfago, assim como bulimia e anorexia são alguns fatores intrínsecos de erosão dental que expõem as estruturas dentais ao ácido clorídrico proveniente do estômago, que apresenta pH inferior a 2.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico precoce deste tipo de alteração no esmalte, especialmente na dentição decídua onde o processo é mais acelerado, é de extrema importância para prevenção de danos irreversíveis para esses dentes e futuramente para a dentição permanente. Quando não tratada pode levar a perdas extensas da estrutura dentária, com sintomatologia dolorosa além de comprometimento estético e funcional até mesmo com envolvimento pulpar (em decorrência da exposição da polpa (nervo do dente) causada pelo desgaste excessivo dentário).

Cabe ao cirurgião dentista atentar para alterações importantes que podem ser observadas durante o exame clínico da cavidade bucal. Os dentes acometidos apresentam perda do brilho “natural”, exposição de dentina nas superfícies vestibular, palatina e lingual, perda de estrutura e de sulcos no esmalte, e ainda o paciente pode relatar sensibilidade ao frio, ao calor, doce, entre outros aspectos clínicos. O conhecimento dos fatores que levam a erosão dentária contribui para controle dos fatores que possam estar desencadeando a alteração.

Quais as medidas de prevenção a serem tomadas?

As medidas de prevenção da EROSÃO DENTÁRIA incluem orientações como:

  • Reduzir a quantidade e a frequência do consumo de bebidas e alimentos ácidos;
  • Evitar consumo de bebidas ácidas, especialmente próximo da hora de dormir;
  • Não utilizar bebidas ácidas (sucos, refrigerantes) em mamadeiras;
  • Consumir moderadamente bebidas ácidas e preferencialmente geladas evitando ficar com elas na boca e bochecha-las;
  • Dar preferencia por água e bebidas nutritivas, como leite por exemplo;
  • Evitar escovar os dentes logo após um “desafio” erosivo (em especial para os pacientes com bulimia, refluxo gastroesofágico ou padrões não usuais de dieta) – os pacientes com diagnóstico de erosão dentária serão orientados pelo cirurgião dentista qual a melhor forma e o que usar para higiene nestes casos.

Em um estudo de HOLBROOK et al. (2009) com objetivo de avaliar a localização e a severidade da erosão dentária com respeito aos fatores etiológicos, observou associações significativas entre erosão dentária e refluxo gastroesofágico diagnosticado e consumo diário de bebidas ácidas.

Tratamento da erosão dentária

Sabendo que a etiologia da erosão dentária é complexa, desencadeada pela interação de fatores intrínsecos e extrínsecos associados a outros tipos de desgastes dentários como atrição e abrasão, o diagnóstico da origem da mesma é de grande importância, a qualquer suspeita de erosão dentária, uma avaliação criteriosa dos hábitos alimentares dos pacientes e uma anamnese detalhada sobre a saúde geral, uso de medicamentos devem ser realizadas.

Na dúvida de qual fator possa estar desencadeando a erosão dentária, após excluídas causas alimentares e medicamentosas, mesmo crianças assintomáticas devem ser encaminhadas para uma avaliação e investigação gastroenterológica para diagnóstico e tratamento do refluxo gastroesofágico quando necessário.

O tratamento da erosão dentária compreende a educação dos pais e responsáveis pelas crianças e adolescentes sobre as conseqüências do processo erosivo para dentição afim de que ocorra o controle do mesmo, mudança nos hábitos alimentares quando necessário e só após o adquirir esse controle, é que o tratamento restaurador/reabilitador deverá ser realizado, quando indicado.

Dessa forma, é essencial que as crianças e adolescentes façam visitas regulares ao cirurgião dentista Odontopediatra para que alterações nas estruturas dentárias sejam diagnosticadas e tratadas precocemente quando diagnosticadas.

Referências:

  1. UFRGS – LUME – Repositório Digital – CORREIA R. – EROSÃO DENTÁRIA: UMA ABORDAGEM ESTÉTICA CONSERVADORA – DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO – Monografia apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito básico para obtenção do título de Especialista em Dentística, julho/2013.
  2. UFRGS – LUME – Repositório Digital – CHEMALE S. – AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE EROSÃO DENTAL EM CRIANÇAS COM DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO: RELATOS DE CASOS CLÍNICOS – Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010.
  3. HOOLBROOK W.P., FURUHOLMJ., GUDMUNDSSON K., THEODORÓS A., MEURMAN J.H. Gastric Reflux is a Significant Causative Factor of Tooth Erosion. J Dent Res., v.88, n.5, p.422-426, Jan 2009.
  4. CARDOSO A.C. Atlas clínico da corrosão do esmlate e da dentina: diagnóstico e tratamento. São Paulo (SP): Quintessence, 2007.

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