Cárie Precoce na Infância

A Cárie Dentária é a doença crônica mais comum na infância e afeta negativamente a qualidade de vida das crianças acometidas. Mesmo com todos os avanços na Odontologia nos últimos tempos ainda se vê uma grande ocorrência da doença cárie precoce em crianças.

Durante muito tempo se ouviu falar na cárie como uma doença infectocontagiosa, crónica e transmissível, resultante da atividade de bactérias específicas que aderem à superfície dentária, principalmente Streptococcus mutans (SM), que metabolizam açúcares para a produção de ácido que, ao longo do tempo, desmineraliza o esmalte.

Hoje já se sabe que a Cárie Dentária se trata de uma uma doença complexa causada pelo desequilíbrio no balanço entre o mineral do dente e o fluido do biofilme. O excesso de carboidratos na dieta muda a composição e estrutura dos biofilmes provocando a desmineralização dental. A sacarose é o mais cariogênico dos açucares, e frente a um aumento no consumo de carboidratos fermentáveis (especialmente aumento na frequência), a produção de ácidos se intensifica, e os eventos de desmineralização não são compensados pelos de remineralização. Dessa forma, podemos dizer que a cárie dentária é uma doença biofilme-açúcar dependente.

A lesão de cárie se forma somente quando o resultado cumulativo de processos de des-remineralização acarreta perda mineral. As lesões de cárie nem sempre são visíveis no início do processo, elas se desenvolvem lentamente, começam a se tornar visíveis através da opacidade localizada nas faces dentais onde ocorre o acúmulo de biofilme (geralmente nesta fase diagnosticada pelo Cirurgião Dentista), e como consequência, quando não paralisada a superfície da lesão fratura gerando uma cavidade.

A American Academy of Pediatric Dentistry (AAPD) classifica:  “Cárie precoce na infância como a presença de um ou mais dentes decíduos cariados (lesões cavitadas ou não), perdidos (devido à cárie) ou restaurados antes dos 71 meses de idade. Porém, qualquer sinal de superfície dentária lisa cariada, com ou sem cavidade, em crianças com menos de 3 anos de idade, é considerada cárie severa na infância (CSI). Essa é de natureza rompante, aguda e progressiva. Também é considerada CSI se, dos 3 aos 5 anos de idade, a criança apresenta mais de quatro, cinco e seis superfícies afetadas em dentes anteriores decíduos aos 3, 4 e 5 anos, respectivamente. A CSI era conhecida anteriormente como “cárie de mamadeira”.

QUAIS FATORES SÃO ASSOCIADOS COM A OCORRÊNCIA DE CÁRIE PRECOCE NA INFÂNCIA?

– Introdução precoce de açúcar (sacarose) na dieta;

– Consumo de alimentos açucarados em alta frequência;

– Adição de açúcar ao leite das mamadeiras ou seu uso com suplementos açucarados principalmente a noite;

–  Uso de chupetas com açúcar ou mel;

– Precariedade na higiene dentária das crianças e a falta de supervisão dos responsáveis nas escovações;

–  Uso de creme dental SEM FLÚOR ou com baixa concentração de flúor, são alguns fatores que podem contribuir para a ocorrência de cárie precoce na infância.

QUAIS AS CONSEQUENCIAS DA CÁRIE PRECOCE NA INFÂNCIA PARA AS CRIANÇAS?

– QUALIDADE DE VIDA E NUTRICIONAIS: Dor, desconforto ao mastigar – afetando significativamente a qualidade de vidas das crianças que passam a ter dificuldades para se alimentar, podendo gerar má nutrição;

– PSICOLÓGICAS/ FONÉTICAS: Perdas extensas de estrutura dental dos dentes decíduos, principalmente em dentes anteriores que são os mais acometidos nos primeiros anos de vida, causando alterações estéticas e influenciando nas atividades sociais das crianças, inclusive com repercussões psicológicas e também alterações fonéticas;

– SISTÊMICAS: Infecções dentárias graves, como abcessos, que podem comprometer a saúde sistêmica da criança;

– DESENVOLVIMENTO CRANIO-FACIAL: Perdas dentárias que podem ocasionar mal-oclusão e impactos na formação das arcadas dentárias.

QUAIS AS MEDIDAS PARA PREVENIR A CÁRIE PRECOCE NA INFÂNCIA?

Quanto mais tarde for a introdução do açúcar na dieta das crianças melhor, o ideal sempre que possível é evitar o açúcar até os 2 anos de idade. Hoje discute-se muito a respeito dos primeiros 1000 dias da criança (270 da gestação + 365 do primeiro ano de vida + 365 dias do segundo ano de vida) onde as escolhas alimentares nesses primeiros 1000 dias poderá interferir diretamente na saúde da criança.

Dentro deste contexto, evitar uso de mamadeiras, principalmente à noite, com adição de açúcar ou suplementos açucarados. As escovações regulares diárias e supervisionadas por um adulto desde o aparecimento do primeiro dente na criança, especialmente a noite, são essenciais para que ocorra a desorganização/ remoção da placa bacteriana.

A escolha do creme dental adequado e que contenha no mínimo 1000 PPM DE FLÚOR pelo menos 2x/dia (através do uso racional de acordo com a recomendação do cirurgião dentista para cada faixa etária das crianças) também é muito importante e imprescindível. Além de visitas regulares ao cirurgião dentista para prevenção e controle da doença cárie.

Referencias
  • https://www.aapd.org/globalassets/assets/news/upload/2003/285.pdf
  • Chedid SJ, Blanl D, Cury JA. Higiene Bucal Usando Fluoretos – Medidas de Prevenção. In: TRATADO DE PEDIATRIA – 4ª ed., organizada por Denis Alexander Rabelo Burns et al., seção 28, cap., 2017.
  • Corrêa, Maria Salete Nahás Pires. Odontopediatria: na primeira infância – 3.ed., 1.reimpr.- São Paulo: Santos, 2011
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