Abordagem de odontopediatras com seus pacientes.

Como deve ser a abordagem de odontopediatras com seus pacientes no consultório odontológico?

O atendimento de bebês, crianças e adolescentes difere do atendimento adulto em vários aspectos, especialmente no que diz respeito ao comportamento e condicionamento destes pacientes. Os odontopediatras deve conhecer uma variedade de técnicas de adaptação do comportamento e, na maioria das situações, deve estar apto a avaliar o nível de desenvolvimento da criança, suas atitudes, seu temperamento e predizer a sua reação ao tratamento.

A Associação Brasileira de Odontopediatria reconhece que os profissionais de Odontopediatria, ao proporcionarem cuidados de saúde bucal para pacientes infantis, sejam eles crianças, adolescentes ou aqueles com necessidades especiais, necessitam lançar mão de um “continuum” de técnicas não-farmacológicas (comportamentais) e farmacológicas quando necessárias, para adaptação do comportamento do paciente.

O manejo do comportamento do paciente deve ser individualizado. Cada paciente deve ser avaliado de acordo com a sua idade e seu nível cognitivo, características de comportamento, personalidade, ansiedade e medo, reação ao desconhecido, experiências prévias, o meio familiar no qual encontram-se inseridos e as  suas limitações.

O consultório odontológico é um ambiente que causa no grupo infantil medo, desconforto, curiosidade, receio. Os instrumentos utilizados, o barulho que eles fazem, podem despertar o sentimento de “dor iminente”. Desta forma, cabe ao Cirurgião Dentista – Odontopediatra promover uma atitude positiva, segura e proporcionar cuidados de qualidade a esses pacientes.

Aspectos a serem considerados no condicionamento dos pacientes odontopediátricos.

Um dos aspectos mais importantes nesta tarefa de condicionamento com o paciente é o gerenciamento da comunicação, o controle da voz. A comunicação exerce papel fundamental neste processo e o cirurgião dentista e auxiliar devem estar cientes de seus papéis quando se comunicam com seu paciente infantil. Controlar a voz significa ser “firme” e “direto” com a criança, não é gritar.

De um modo geral, a auxiliar/secretária recebe o paciente e faz a abordagem inicial ainda na sala de espera, deixando o mesmo a vontade e fazendo o primeiro contato no consultório odontológico. Sequencialmente é realizado o preparo da criança para entrada na sala e sentar na cadeira odontológica, sempre que possível esse processo deve ser feito de forma lúdica e tranquila, deixando o paciente à vontade e seguro para conhecer es e ambientar ao local.

O cuidado na comunicação deve ser sempre prioritário, quando o Odontopediatra se comunica com o paciente, a auxiliar assume um papel mais passivo, não intervindo no processo de comunicação entre a criança e o cirurgião dentista, isto porque a criança só ouve uma pessoa de cada vez, e muitas vozes confundem e provocam na criança reações de medo e ansiedade. Essa regra também é válida para os Pais durante atendimento, estes devem exercer a comunicação somente quando orientada e solicitada pelo profissional.

Algumas técnicas que podem ser empregadas na abordagem de pacientes pediátricos.

Algumas técnicas podem ser empregadas para facilitar a abordagem com pacientes pediátricos. A mais conhecida trata-se da técnica: Falar-mostrar-fazer/ Tell-show-do (TSD). Em 1959, Addelston estabeleceu a técnica que englobou vários conceitos da teoria da aprendizagem, à qual chamaram de “diga-mostre-faça” (DMF). Dessa forma o profissional possibilita ao paciente uma visão do que será realizado trazendo segurança e confiança.

Outras formas como: comunicação não verbal- através da postura, expressão facial e linguagem corporal do profissional; reforço positivo- onde o paciente é recompensado pelos comportamentos desejados; usar a modulação positiva da voz, cantar, a expressão facial, o elogio verbal e demonstrações físicas apropriadas de afeto são formas de aproximação e construção da confiança com o paciente. O uso de reforçadores não sociais, como lembrancinhas e brinquedos, também são bem vindos.

O objetivo do uso de técnicas de manejo, segundo Albuquerque et al, (2010) é estabelecer uma boa comunicação com a criança, educar o paciente orientando-o a cooperar durante o tratamento odontológico e construir uma relação de confiança. É proporcionar o atendimento aos pacientes de forma humanizada.

 

Embora a Psicologia seja muito resolutiva no consultório, algumas vezes infelizmente ela não será suficiente. Em alguns casos, os pacientes chegam até nós com experiências prévias não satisfatórias de outros profissionais, dor, ou ainda quando os pais por seu seus próprios medos projetam nas crianças suas angústias.

Nos casos onde não existir colaboração do paciente, mesmo após sucessivas tentativas de condicionamento e a criança ter a necessidade da realização de determinado procedimento odontológico, para a segurança do próprio paciente e da equipe profissional, pode-se sugerir a adesão à contenção física, mecânica. Quando indicada, a contenção física ou estabilização protetora deve ser feita da forma mais delicada possível, sempre com a ajuda e consentimento dos pais.

A analgesia relativa ou sedação consciente com oxigênio e oxido nitroso também pode ser indicada para crianças e adolescentes com o objetivo de eliminar ou diminuir o medo dos procedimentos odontológicos, tornando o tratamento mais aceitável. E em alguns casos até mesmo pode ser necessário procedimento sob anestesia geral para maior segurança e conforto da criança. É importante que cada paciente seja avaliado individualmente, de acordo com as suas limitações e necessidades.

Na Odontopediatria não existem regras ou fórmulas mágicas, o profissional deve estar capacitado para conduzir o atendimento da forma mais segura e confortável possível ao paciente. Os Pais devem estar sempre cientes, esclarecidos e de acordo com todas as técnicas disponíveis a serem empregadas. O Odontopediatra deve saber reconhecer e respeitar cada fase de desenvolvimento da criança para poder indicar as melhores opções de manejo, condicionamento e tratamento a cada uma delas.

REFERÊNCIAS

  1. 1.MASSARA, ML. Manual de Referência para Procedimentos Clínicos em Odontopediatria. – 2ª Ed. 2013.
  2. Camila Moraes Albuquerque, Cresus Vinícius Depes de Gouvêa, Rita de Cássia Martins Moraes, Renata Nunes Barros, Cínta Fernandes do Couto. Principais técnicas de controle de comportamento em Odontopediatria – Arquivos em Odontologia Volume 45 Nº 02 Abril/Junho de 2010.