Qual a idade ideal para iniciar o Tratamento Ortodôntico em Crianças e Adolescentes?

Quando se pensa em tratamento ortodôntico em crianças e adolescentes, frequentemente há por parte dos pais e, inclusive por parte de alguns profissionais, uma dúvida sobre a idade ideal para o início do tratamento. Não existe uma idade correta para início de todos os tratamentos ortodônticos, e essa definição vai depender de alguns fatores como o do tipo de má-oclusão apresentada, severidade do problema, condição psicológica do paciente para aceitação e cooperação no tratamento e implicação estética, funcional e psicológica da má-oclusão no desenvolvimento do paciente.

Más-oclusões que prejudiquem o desenvolvimento normal da oclusão paciente, como as mordidas cruzadas posteriores e anteriores, essa última frequentemente associada a má-oclusão de Classe III de Angle, devem ser interceptadas precocemente, muitas vezes ainda em dentição decídua (entre 4 e 5 anos de idade), se o perfil psicológico do paciente for condizente com o tratamento nessa idade (Figuras 1A e 1B).

Figura 1. Paciente com 4 anos na fase de dentição decídua portadora de mordida cruzada total (anterior e posterior) e má-oclusão de Classe III , tratada com expansão e protração maxilar.

A mordida aberta pode ser tratada na dentição decídua somente com eliminação de hábitos nocivos, sem necessidade de interceptação. Na dentição mista (6 a 10 anos de idade), normalmente a eliminação do hábito não é suficiente para o fechamento da mordida e então é necessária terapia de intervenção ortodôntica assim que o paciente possuir incisivos e primeiros molares irrompidos, em torno de 7 anos de idade (Figuras 2A e 2B).

Figura 2. Paciente com 7 anos na fase de dentição mista portador de mordida aberta anterior proveniente de hábito de chupeta interrompido 1 ano antes e apresentando interposição de língua na deglutição e fala que impediam o fechamento espontâneo. Paciente foi tratado com esporões linguais para impedir a atividade anormal da língua e após o fechamento foi encaminhado para fonoaudiologia.

Procedimentos preventivos de manutenção de espaço devem ser realizados sempre que há perda precoce de dentes decíduos (dente permanente sucessor aquém  do estágio 7 de Nolla e grande quantidade de osso alveolar frente a coroa do dente permanente). Supervisão de espaço é um procedimento de distribuição de espaços ocupando o espaço livre de Nance para resolução de problemas de apinhamentos anteriores e deve ser iniciado em primeiro período de dentição mista (7 anos de idade) estendo-se até o final da dentição mista (10 anos). A recuperação de espaços é um procedimento interceptativo realizado sempre que há perda de dentes decíduos sem que os procedimentos de manutenção tenham sido respeitados e deve ser o mais cedo possível após a detecção do problema, para permitir a erupção espontânea do dente permanente.

O tratamento da má-oclusão de Classe II normalmente pode ser iniciado em   final de segunda fase de dentição mista ou dentição permanente precoce, obtendo-se resultados semelhantes àqueles obtidos caso o tratamento fosse iniciado precocemente, em primeira fase de transição da dentição mista. Exceções a essa regra são casos onde há grande risco de fratura de incisivos superiores devido a sobressaliência aumentada e ausência de selamento labial passivo e também em situações de comprometimento psicossocial do paciente devido ao problema estético proveniente da má-oclusão.

Referências

Farret MM, Jurach EM, Guimarães MB, Guimarães MB. Supervisão de espaço na dentição mista e sua correlação com o apinhamento dentário na região anterior do arco inferior: uma filosofia de tratamento. Ortodon Gaúch. 2005;9(1):5-12.

Thiruvenkatachari B, Harrison J, Worthington H, O’Brien K. Early orthodontic treatment for Class II malocclusion reduces the chance of incisal trauma: Results of a Cochrane systematic review. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2015;148(1):47-59.

Profitt WR, Fields H, Sarver D. Contemporary Orthodontics. St Louis, Mo: Elsevier/Mosby, 2013.